sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Instituto de Coimbra e a Química Forense

António Augusto da Costa Simões (1810-1903) foi um eminente médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Foi sócio efectivo do Instituto de Coimbra (IC) desde a sua fundação, tendo sido colaborador na revista O Instituto desde o seu início. Desempenhou vários cargos no IC, tais como secretário (1855-1858) e director (1860-1862) da 2.ª Classe e membro da Secção de Arqueologia. Em 6 de Novembro de 1867 tomou posse como presidente do IC, cargo que desempenhou até 1972, tendo sido eleito sócio honorário a partir de 8 de Fevereiro de 1879.
Costa Simões distinguiu-se em muitas vertentes, tendo ocupado vários cargos políticos como o de deputado, vice-presidente do parlamento e de presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Para além da investigação na área da fisiologia humana, dedicou-se também à análise química, tendo realizado análises da água dos Banhos do Luso, dos quais foi grande dinamizador, e interveio decisivamente no projecto de abastecimento de águas de Coimbra.
No quarto volume do jornal O Instituto, de 1855, surgiu uma série de artigos intitulados de Chimica Legal, da autoria de Costa Simões, onde este descreveu as análises efectuadas no Laboratório Chimico da Faculdade de Filosofia para a detecção de venenos em amostras provenientes de diversas localidades. Naquela época as análises toxicológicas eram apenas realizadas nos laboratórios de Coimbra, Porto e Lisboa. Num dos casos tratados pode ler-se:

Desgostou-se o doente com o sabor da primeira dose; e a sua mulher, para o resolver a continuar, tomou também algumas colheres do medicamento; e ambos morreram nessa noute, com symptomas de envenenamento.

Costa Simões, recorrendo ao teste de Marsh, detectou a presença de arsénico na amostra do xarope de amoras e oximel, um remédio caseiro para aliviar os sintomas de angina, cuja quantidade foi bastante para produzir a morte por envenenamento, na dose de duas colheres, de dois adultos.


Mas também outros venenos foram analisados nos vários casos descritos, em particular os alcalóides, com recurso ao método de Stas para o isolamento destas substâncias. O relato pormenorizado que Costa Simões fez dos métodos analíticos usados demonstra que este possuía um conhecimento muito actualizado das mais recentes descobertas em toxicologia.
A actividade forense em Portugal nessa altura era muito limitada, sendo escassos os cenários nos quais havia recolha de amostras. O objectivo de Costa Simões com estes artigos foi demonstrar que a maioria das análises toxicológicas não necessitavam de muitos aparelhos ou reagentes, e que os processos não eram tão complicados que exigissem os recursos de um laboratório químico. Sendo reconhecido o veneno, seria possível proceder, no próprio local, a alguns testes e por meios tão simples, que os pode fornecer qualquer botica d’aldea.
A iniciativa de Costa Simões, no âmbito da ciência forense, seria prosseguida pelo seu condiscípulo e amigo José Ferreira de Macedo Pinto (1814-1895), médico e professor de Medicina Legal, Higiene Pública e Polícia Médica da Faculdade de Medicina de Universidade de Coimbra. Macedo Pinto foi também sócio fundador do IC onde desempenhou os cargos de Tesoureiro, entre 1855 e 1858, e de Vice-Presidente, entre 1860 e 1862. A ele se deve a organização do Gabinete de Química da Faculdade de Medicina que, na altura (1860), já possuía uma vasta colecção de reagentes, instrumentos e utensílios para análises toxicológicas. Uma breve notícia da fundação deste gabinete foi publicada no décimo volume de O Instituto.

(Uma descrição mais alargada deste assunto estará disponível no artigo: Leonardo, A. J., Martins, D. R. e Fiolhais, C. (2009). António da Costa Simões e a génese da química forense em Portugal. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência – a publicar)

3 comentários:

BG disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BG disse...

Olá! Eu estou neste momento a fazer um trabalho sobre Costa Simões para a Faculdade. Devo dizer que a sua entrada sobre o fisiologista me foi bastante útil. Gostava era de saber se o artigo de que falou no fim já se encotra disponível na Internet. Se sim, podia indicar onde, por favor?

A. José Leonardo disse...

O artigo indicado ainda não se encontra publicado. A revista brasileira tem apenas duas edições anuais. Esperamos que a publicação ocorra até ao final do ano.